evasão cadeiras
As faltas que eram esporádicas foram ficando cada vez mais frequentes até o ponto de o professor riscar o nome do aluno do diário de classe. Cenas como essa, infelizmente, têm sido comuns nas escolas brasileiras, tornando o abandono dos estudos ou a troca recorrente de escola pontos de preocupação constante para gestores e educadores de todo país.
Embora dados atuais apontem que 97,6% das crianças e dos adolescentes entre 7 e 14 anos estejam matriculados na escola, os indicadores de permanência (que medem a taxa de abandono, ou seja, os que não concluíram o ano letivo) e de evasão (referente aos que não se matricularam no ano seguinte) caminham na direção contrária: hoje, a cada 100 estudantes que ingressam no Ensino Fundamental, apenas 36 concluem o Ensino Médio. Deste total, segundo números da Pnad (Pesquisa Nacional por Amostragem Domiciliar) de 2013, 45,7% deles não conseguem concluir o Ensino Médio até os 19 anos – dois anos depois da idade adequada.
Outro quadro que preocupa os educadores, neste contexto, diz respeito aos alunos que mudam de escola com frequência – hábito que pode prejudicar o desempenho do estudante, tanto do ponto de vista da interrupção do seu ciclo de aprendizagem, como também da socialização e da convivência com a comunidade escolar. “O aluno que vivencia constantes mudanças de ambiente escolar pode ter prejuízos pedagógicos, pelas interrupções de processos e sucessivas adaptações necessárias ao prosseguimento dos estudos em diferentes projetos, e de relacionamento, pois fica impossibilitado de estabelecer relações mais duradouras com professores e colegas”, afirma a diretora pedagógica do Albert Sabin, de São Paulo (SP), Giselle Magnossão.
Vencer o desafio da evasão escolar não é uma tarefa fácil. Afinal, os motivos podem ir desde o desinteresse do aluno e não envolvimento da família na escola, até mudanças na situação social, econômica ou da dinâmica familiar envolvendo elementos que vão além dos muros da escola. No entanto, é fundamental que as escolas encontrem maneiras eficazes para modificar esse quadro. Mas por onde começar? Se essa é sua dúvida, confira nossas dicas de como evitar a evasão nas instituições de ensino.

  1. Identifique, o quanto antes, as causas da evasão escolar

Eugênio Cordaro, sócio-fundador da Corus Consultores, chama a atenção das instituições de ensino para o fato de que alunos e famílias não costumam decidir instantaneamente deixar a escola. Assim, ele defende que elas devem estar atentas para perceber que o problema existe, de forma a solucioná-lo antes que o abandono ou a busca por outra instituição aconteça. “Os colégios podem reduzir substancialmente a saída de alunos se as informações sobre o descontentamento com a instituição chegarem a tempo. Por outro lado, a reversão da evasão é quase nula se a busca pelas motivações for feita quando o aluno já saiu”, diz.
Para ajudar a atenuar o problema, as escolas podem colocar o tema na pauta do planejamento pedagógico no começo do ano e monitorá-lo de forma regular ao longo do semestre, com objetivo de identificar, o quanto antes, os alunos propensos à evasão.
Na prática, o primeiro passo é fazer um diagnóstico e identificar quais fatores têm levado seus alunos a deixar os estudos ou a mudar de escola. Embora os motivos sejam diversos e possam variar de acordo com a faixa etária, classe social, tipo de escola (pública ou privada), entre outros, as razões mais comuns estão relacionadas ao descontentamento com a instituição de ensino, tanto por parte dos estudantes, como também das famílias.
Uma pesquisa realizada em colégios particulares de São Paulo, feita pela Oficina da Estratégia, em parceria com a Corus Consultores em 2013, mostrou que as famílias que trocaram seus filhos de escola no início daquele ano, desconsiderando as situações pontuais e extremas ( cujo motivo da saída é particular e claro para todos os envolvidos), estavam em busca de um colégio que transmitisse mais organização e disciplina, além de ser mais moderno e inovador- características que nem sempre ficam evidenciados na relação cotidiana das famílias com a escola. “Com essa pesquisa foi possível chegar a dados que mostram que os pais estão buscando escolas que promovem a autonomia dos alunos, que valorizam o relacionamento e o trabalho em grupo e, ao mesmo tempo, transmitem organização e disciplina”, afirma Eveline Iannarelli, sócia-fundadora da Oficina da Estratégia, que desenvolve pesquisas voltadas à gestão escolar.
Para Eugênio, o levantamento de dados como esses pode colaborar efetivamente para evitar a evasão escolar, tendo em vista que, além de ajudar a medir o grau de satisfação com a escola, eles apontam quais são as expectativas dos pais e alunos em curso. “Para tirar real proveito desses dados, no entanto, eles devem ser estudados da maneira mais científica e precisa possível, oferecendo pistas assertivas para que os gestores possam tomar medidas eficazes que realmente tenham impacto na evasão”, indica.
Nessa etapa de investigação das causas do problema, vale entrar em contato, inclusive, com os pais dos alunos evadidos, em busca de tentar entender quais foram suas motivações para a troca ou saída da escola. “Conhecer as razões da evasão implica acompanhar cada aluno e cada família para compreender o que motivou os responsáveis a procurar uma nova escola para, num segundo momento, poder fazer esta distinção: quais foram as transferências inevitáveis e quais foram aquelas que poderiam ter sido evitadas por ações da equipe escolar”, sugere a diretora pedagógica Giselle Magnossão.

  1. Entenda e atenda seus alunos e pais

Uma vez identificados os motivos da evasão escolar, as instituições de ensino devem separá-los entre internos e externos. Os internos seriam motivos oriundos da própria escola, que podem ir desde dificuldades no relacionamento ou no atendimento por parte dos funcionários (corpo docente e colaboradores em geral), infraestrutura deficiente ou defasada em relação às necessidades dos alunos, passando pela discordância ou incompatibilidade com a linha pedagógica adotada pela escola, entre outros.
Já os externos dizem respeito ao próprio aluno e ao ambiente familiar: situação financeira da família, dificuldades com transporte escolar, reincidência de reprovação, problemas de relacionamento entre os responsáveis pelo aluno (separação, disputa de guarda, por exemplo, entre outros). “Conhecer a fundo os motivos que levam pais e alunos a romper com as escolas pode ajudar a ampliar o entendimento sobre necessidades e expectativas, propiciando uma relação mais saudável entre todos os envolvidos e uma gestão mais assertiva por parte do colégio”, diz Eveline.
Em ambos os casos é importante traçar estratégias que resolvam com eficiência os problemas encontrados. Dentre as medidas que podem colaborar, estão, por exemplo, o investimento em programas e incentivos para qualificação dos docentes; a organização de um cronograma de aulas de reforço para alunos com baixo desempenho escolar; uma melhor adequação na infraestrutura; a realização de reuniões com os pais dos alunos com a mensalidade atrasada para verificar se há alguma forma de chegar a um acordo financeiro; o estabelecimento de parcerias para viabilizar um transporte escolar seguro e de qualidade; além de manter uma comunicação constante e próxima com alunos e famílias.
Afinal, incentivar um diálogo próximo entre as escolas e as famílias pode servir como base para que o gestor crie uma cultura favorável ao recebimento de feedback que, por sua vez, é a melhor estratégia para que a instituição consiga se antecipar ao problema, dissolvendo-o antes que se torne um dos motivos da evasão escolar.

  1. Fortaleça sua instituição

Uma vez que os problemas que envolvem a evasão estejam identificados e em processo para que sejam resolvidos, a instituição deve elaborar estratégias para fidelizar seus alunos. Alguns colégios por exemplo, procuram investir não apenas na qualidade de ensino, mas também na qualidade do clima escolar, ou seja, na melhoria constante dos processos de atendimento e de relacionamento entre alunos, famílias e colaboradores. Acompanhar a jornada de cada um de seus alunos, desde a matrícula na escola até sua saída- quer ela aconteça pela conclusão do curso, quer de forma antecipada por algum motivo-, também pode ser uma medida eficaz para o fortalecimento do vínculo com a escola, reduzindo, assim, os índices de evasão.
Outra dica é realizar um estudo para identificar quais são os pontos fortes de sua instituição de ensino e criar estratégias, não apenas para mantê-los potentes, como também para divulgá-los. “A comunicação é um poderoso instrumento para transmitir os valores cultuados pela escola. Com planejamento e constância, os diferencias da sua escola, como o sistema de ensino ou atividades complementares, por exemplo, podem ser comunicados às famílias, permitindo assim que fiquem na memória de pais e alunos ao longo de todo o ano letivo e se tornem de grande aliada para retenção e atração de novos alunos”, observa o especialista em comunicação escolar e CEO e Co-founder Vahid Sherafat.
Visando auxiliar as escolas a enfrentar o desafio da evasão escolar, a Oficina da Estratégia realiza anualmente um painel de pesquisas comparadas que avalia indicadores relacionados à retenção e à atração de novos alunos. As inscrições para a edição de 2016 estão abertas e podem ser acessadas pelo link:   https://pt.surveymonkey.com/r/PesquisaEscolas2016
Você está passando pela evasão escolar em sua instituição de ensino? Comente aqui, compartilhe seus desafios e experiências.