Ao longo dos anos e da história, o trabalho foi ganhando diferentes significados. Na Idade Média, Santo Agostinho traz o conceito de co-criação do mundo para o trabalho e faz dele algo divino. Com o renascimento, o trabalho assume uma outra característica, ganha status e passa a ser visto como forma de auto-expressão.
Com a revolução industrial no século XVIII, uma nova relação entre capital e trabalho se impôs. Surge o liberalismo econômico, a acumulação de capital e o capitalismo torna-se o sistema econômico vigente. Adam Smith cria o conceito de homo economicus, no qual o trabalho é fundamentado sob o ponto de vista econômico.
Do ponto de vista subjetivo, notadamente com a teoria de Karl Marx, o trabalho é elevado como principal via de acesso à essência humana. Para Marx, o trabalho tinha o papel principal na definição do ser, por meio dele o homem se externalizava, ele agia e se transformava por meio de seu trabalho.
Um estudo conduzido, pela psicóloga Betania Tanure e pelos pesquisadores Antonio Carvalho Neto e Juliana Oliveira Braga revelam a angústia da vida executiva nas empresas brasileiras. Parte do estudo foi publicado na Revista Época Negócios (Edição 3, Julho de 2007) e mostra como o ambiente de trabalho se tornou fonte de infelicidade para os profissionais. O levantamento abrangeu mais de mil executivos de aproximadamente 350 empresas. Segundo a pesquisa:
84% dos executivos são infelizes no trabalho.
76% deles acessam e-mail profissional fora do horário de trabalho.
58% acham que os cônjuges estão descontentes com o ritmo excessivo de trabalho deles.
55% vivenciam uma mudança radical no trabalho.
54% estão insatisfeitos com o tempo dedicado à vida pessoal.
35% apontam problemas com o chefe como a crise mais marcante de suas vidas.
Apesar de 84% dos executivos estarem infelizes no trabalho, a mídia insiste na imagem do estereótipo de herói do mundo corporativo. As revistas de negócios estão repletas de rostos de executivos felizes e realizados. O que mostra uma outra face da realidade: para sobreviver nesse ambiente de negócios é preciso transmitir a imagem do sucesso, da carreira bem sucedida, do “super-executivo”.
Porém, chega um momento em que todo ser humano depara com uma questão fundamental: se é ou se foi feliz ou não? E nesse momento, as máscaras podem cair e esse “super executivo” vivenciar uma outra realidade.

A dinâmica atual do mercado é marcada por mudanças constantes e uma sensação de incerteza em relação ao futuro. A cada momento o profissional está envolvido em um novo projeto, ou mesmo em uma nova empresa, o que dificulta a construção de uma narrativa linear em relação a formação de sua identidade. Não existe uma narrativa central ao longo da vida, mas sim diversos fragmentos de pequenos projetos.
Richard Sennett em seu livro A Corrosão do Caráter, mostra como capitalismo flexível, com suas mudanças constantes e visão de curto prazo, afeta a construção do caráter e cria laços fracos.  Sennett diz: “As condições de tempo no novo capitalismo criaram um conflito entre caráter e experiência, a experiência do tempo desconjuntado ameaçando a capacidade das pessoas transformar seus caracteres em narrativas sustentadas.”
Essa ausência de narrativas sustentadas podem acarretar um outra aspecto da infelicidade dos profissionais: a ausência de sentido naquilo que fazem. Fernando Bendassolli em seu livro Trabalho e Identidade em tempos sombrios diz: “Mudanças constantes nas tarefas impedem a existência desse tempo apropriado para os relacionamentos consolidarem-se em hábitos ou regras que então passam a governar os relacionamentos. As consequências, para Durkheim, são graves: se o indivíduo trabalha sem saber para que ou para onde isso o levará, só lhe resta seguir a rotina, num movimento monótono e repetitivo sem interesse. A anomia seria um estado semelhante àquele da alienação: em ambos os casos é ausência de propósito, de sentido, que está em questão – para Marx, a falta de sentido pelo fato do trabalho não poder mais realizar o homem; para Durkheim, a falta de sentido pelo fato do indivíduo não participar de uma consciência comum.”
Diante desse cenário, uma nova geração está invadindo o mercado de trabalho: a geração Y.  Esse geração é composta por jovens que nasceram entre 1980 até 2000 e traz consigo novos valores para o mundo corporativo. Diferente de seus pais da geração X que buscavam um trabalho para a vida toda, essa geração quebra rapidamente os vínculos com as empresas e permanecem nelas apenas enquanto o trabalho ainda faça sentido. A rotação não os assusta (a situação do mercado lhes permite isso) e, apesar de se motivarem a escalar posições, não é tanto pelo que estas representam em poder, mas porque implicam reconhecimento e maior possibilidade de colocar em marcha suas iniciativas.
Um estudo organizado por Mark McCrindle da Australian Leadership Foundation mostra outros aspectos interessantes dessa geração, um deles é a busca de um grande significado no que fazem. Esta geração tem observado seus pais obterem a recompensa do trabalho duro: casas, carros e riqueza material. No entanto, eles têm visto os custos do sucesso dos pais em termos de casamentos desfeitos, pais ausentes, e uma epidemia de doenças relacionadas com estresse. Por sua parte, a geração Y ficou  desiludida com o materialismo que aproveitaram e o tédio continua sendo um grande problema para eles. Por isso que eles estão procurando mais do que apenas continuar a experiência do consumismo. […] Os jovens desta geração não vivem para trabalhar, mas sim trabalham para viver. O trabalho apenas fornece a renda para fazer o que eles realmente querem fazer. Eles estão em busca de diversão, amizades de qualidade, propósitos repletos de sentido e para o significado espiritual (1 em cada 3 afirmam que participam regularmente de algum tipo de serviço religioso). (MCCRINDLE,2006).
Em 2011, a agência BOX1824 realizou um estudo chamado “Projeto Sonho Brasileiro”.  Um estudo sobre o Brasil e o futuro a partir da perspectiva do jovem de 18 a 24 anos. O estudo mostra que 55% dos jovens sonham com a formação profissional e emprego. Um dos jovens entrevistados diz: “Trabalho é uma expressão do ‘eu’, do que você é.”
Segundo o estudo, essa geração não pensa o trabalho como seus pais pensavam. Não é apenas acúmulo de dinheiro ou status social que está em jogo para eles. Investigando a simbologia do trabalho para esses jovens, observamos alguns novos significados. Eles não negam questões funcionais, como dinheiro e estabilidade, mas a diferença é que não param por aí. Encontramos muitos jovens conectando sua realização pessoal à profissão dos seus sonhos. Essas buscas não são dissociadas, elas vêm juntas. O trabalho é cada vez menos visto como necessidade, e cada vez mais como elemento de realização e expressão. Os exemplos profissionais mais admirados são aqueles que conseguem aliar as duas coisas. Uma não menos importante que a outra. Ambas integradas. Essa é uma nova noção de sucesso que ganha força.
A geração Y traz consigo uma nova forma de lidar com o trabalho, contudo as empresas ainda não absorveram todos os aspectos valorizados por esses jovens. Possivelmente, presenciaremos mudanças significativas no ambiente de trabalho ao longo dos próximos anos.
O que fica evidente é que algo está errado no formato atual de trabalho, pois 84% dos executivos estão infelizes. Resta saber se a Geração Y conseguirá presenciar a incorporação dos novos valores trazidos por ela ou se isso ficará com a Geração Z.
E para nós que continuamos no mercado de trabalho nessa fase atual, vale a pena resgatar o sentido que o trabalho tem em nossas vidas.  E, independente da geração que estivermos, sempre há a possibilidade da mudança e de buscarmos o sentido naquilo que fazemos. E como dizia Nietzsche: “Quem tem por que viver pode suportar quase qualquer como”. Vale a pena nos perguntarmos: Porque trabalhamos? Ou melhor, porque vivemos?  Apesar desse tipo de pergunta ser desconfortante, é melhor fazermos isso agora do que mais tarde. E para aqueles que acham que não tem tempo para pensar sobre isso, lembre-se que o romano Sêneca, um dos grandes filósofos da Antiguidade, escreveu que para alcançar a felicidade “é preciso livrar-se da agitação desregrada, à qual se entrega a maioria dos homens”. Ou então lembrar do que Demócrito dizia: “Ocupe-se de pouco para ser feliz”. Geralmente, fazemos o contrário.
É melhor encontrarmos um tempo para pensarmos nisso agora do que esperarmos a época da nossa “aposentadoria” na qual teremos um tempo livre para cantarmos:
Devia ter amado mais, ter chorado mais, ter visto o sol nascer. Devia ter arriscado mais, até errado mais, ter feito o que eu queria fazer… Devia ter complicado menos, trabalhado menos, ter visto o sol se pôr…
(Epitáfio – Titãs – Composição: Sérgio Britto).
Links Relacionados:
http://revistagalileu.globo.com/Revista/Galileu/0,,EDG87165-7943-219,00-GERACAO+Y.html
http://www.hsm.com.br/editorias/geracao-y-73-em-2025 http://www.learningtolearn.sa.edu.au/Colleagues/files/links/UnderstandingGenY.pdf http://osonhobrasileiro.com.br/indexn.php